quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Holanda (Holland Netherlands) - Amsterdam (Parte III)

                                                            A cidade das missões




Acordei já no clima de um dos dias mais loucos da viagem com um: "Montinhooooooo!!!!"
Dessa vez o trem teve destino certo! UHUL!
Elena e Yulya chegaram com a corda toda! Que energia aquelas duas tinham! Às vezes eu pedia arrego. Não dava para companhar!

Elas já bagunçando o quarto, Iaroslav já rindo da minha cara amassada quando lembrei que Elena era Russa e comentei com ele(que era ucraniano) e acabei descobridno que Yulya também era ucraniana. E aí pronto, viraram melhores amigos em 5 minutos e começaram em um tal de falar russo e eu me fuerrei. Não entendia lhufas. E sempre que eles queriam me zoar me zoavam em russo e eu só conseguia a tradução depois de muita insistência ou depois de negociar barras de chocolate ou biscoitos(que era como ouro em Amsterdam, já que todos estavam sempre de larica). Eles se aproveitaram, os viadinhos!

- Dia bom, bom dia! Vamos pra rua! Cogumelos!! Acorda! Uhul! Estamos em Amsterdam! Cogumelos!

Fomos atrás dos tais cogumelos..
Coffee Shop? Não Não não!!!! Parecia até insulto quando perguntávamos se vendiam cogumelos nos coffee shops. Eles respondiam secos "No! No! No! Smart Shop! Not Coffee Shop!"  "Nossa, desculpa, moço!" Devia ser a concorrência.

Ok Ok, desculpa. Fomos então atrás das tais Smart Shops e depois andando descobrimos que os cogumelos vendiam em lojas de souvenir, do lado dos chaveiros e cartões-postais em uma caixinha toda bonitinha(que eu guardei até hoje) e embalados a vácuo. Mega industrialização. Que louco, né? Fiquei mais tranquila porque significava que matar ele não matava(pelo menos não em uma vez para experimentar). E eu ia experimentar com certeza! A... vai...onde mais eu ia ver isso na vida?!

Desejo da Elena saciado, cogumelos comprados. Não, não.. não apenas cogumelos. Ainda tivemos que ir no "nem fraco nem muito forte" e nos deram a dica dos Mexicans! Uuu...

Agora o debate era se comíamos naquela hora, ou esperávamos, se comíamos, se esperávamos, se se a gente comesse íamos ficar tão doidos que não íamos conseguir fazer mais nada.. Bom.. eu decidi não comer na rua. Vai que era mais forte do que imaginávamos?!

Ok. Agora era a vez dos meus desejos: Museu da Anne Frank. Eu vi o filme quando era muito nova e foi tão marcante que lembro das cenas até hoje como se as tivesse visto ontem. Precisava ver com meus próprios olhos. Masss... fiquei na vontade. Era preciso reservar com meses de antecedência ou enfrentar uma fila de hoooras que dava voltas nos quarteirões(Porque... adivinha? O museu também era expremidinho, claro, era a casa onde ela ficou escondida). Minha visita ao museu ficou na calçada onde eu tentava espionar qualquer coisa lá dentro bem frustrada. Nessa hora eu me arrependi de não ser como meus pais que já saem do Brasil com tudo reservado.. Anne Frank ficou para minha imaginação, até hoje. Vai ficar para a próxima. Eu poderia falar que me contive coma  estátua dela na esquina, mas achei tão pequenininha e sem graça que não dá para mentir.
Iaroslav, Elena, eu ,Yulya, e a fachada da Anne Frank

Bem.. não tínhamos horas sobrando já que partiríamos para Bruxelas no dia seguinte, então.. abrimos o mapa e pensamos bem em quais opções escolher.. eram muitas. As meninas queriam ir no museu de cera e eu não iria nem a pau. Não acho a menor graça pagar 35 euros para ver um monte de cera com formato de gente famosa. Eu queria de qualquer jeito ir no Museu do Van Gogh e era o mesmo preço!

Ao contrário do que muitos pensam, eu não sou fã de museu. No museu D`Orsay em Paris, talvez por falta de planejamento de visita, ou por falta de guia,  deu 2 horas e eu já estava querendo sair correndo. Não por não amar pinturas.. (aliás as quatro horas que passei foram no terceiro andar no surrealismo que me encanta), mas porque eu gostava mais de apreciar as obras das quais eu já tinha ouvido falar dos artistas, das suas histórias e realmente na Europa eu vi que tenho uma grande falha nesse quesito. Vi muitas obras de arte lindas por toda a Europa, mas sei que não as guardei na minha memória.. eu não conhecia uma história por trás de muitas delas.. e isso me fez voltar pro Brasil até com vontade de estudar Belas Artes(mas já desisti, para a tranquilidade dos meus pais).

Museu da Cera, Museu do Van Gogh, Cera, Van Gogh, até que resolvi o problema. Eu decidi Van Gogh e elas ficaram com o da cera. Mas e Iaroslav? Por elas serem lindas russas/ucranianas e poderem botar o russo em dia eu achei que ele fosse com elas e eu iria ter que ir sozinha mesmo pro Van Gogh. Não que seria novidade ir sozinha, mas sabe-se lá o que viria a frente na viagem, quantos momentos eu ainda passaria sozinha em sei lá quais países mais... seria legal ter companhia sempre que desse. Mas para minha surpresa, ele foi comigo. E foi ótimo! Realmente companhia certa muda tudo.

Primeiro porque ele tinha um senso de direção absurdo para quem estava lá faziam apenas 3 dias. Sabia sempre para onde devíamos ir, onde virar, atravessar, qual canal seguir sem mapa algum! Encontramos duas alemães que precisavam comprar botas por causa do frio e em dois segundos ele explicou aonde estavam as 3 melhores lojas para elas. Eu ficava chocada porque não conseguiria isso nem em um mês naquela cidade!
E o senso de humor que mesmo chovendo com um puta frio me fazia andar gargalhando por toda Amsterdam. E sempre quando dava na telha ele iniciava as mais interessantes discussões com aquele toque engraçado. Como ele conseguia eu não sei, mas era incrível.


Estavámos assistindo ao filme que resumia a vida de Van Gogh no primeiro andar do museu quando as mensagens começaram

- Aonde vocês estão? Não resistimos e comemos os cogumelos!
- Oh my Gosh! E aí... Já estão mordendo alguém pela rua?!
- Hummm Não... ainda não!

E gargalhávamos imaginando as meninas loucas dentro do museu de cera e ninguém a nossa volta entendia o que tinha de tão engraçado na vida sofrida de Van Gogh.


Amei o museu. É gostoso ir no museu com uma boa companhia. O Iaroslav acabou se tornando a companhia perfeita. Me deixava sozinha quando eu queria, e sem querer sempre me encontrava quando o andar estava ficando cansativo e chegava sempre com uma piada ou sacaneando alguém e me fazia rir e saía para me dar meus espaço. Eu descontraía, e tudo voltava a ficar muito interessante de novo.

Eu não queria perder nenhum detalhe e acho que ele percebeu isso e respeitou. Não gosto de quem vai ao museu para ficar conversando, eu não vou muito, mas quando vou, me entrego de corpo e alma. Desligo o botão e entro no mundo de cada quadro ou foto na minha frente.


 Fiquei louca com a maioria das pinturas e eu adorava o fato de Van Gogh não dar nomes mirabolantes aos quadros! "Jarro de flores", "buquê de flores", "rostos", "frutas na mesa", auto-retrato", e por aí ia. Sua arte era tão espontânea e de coração que ele parecia simplesmente não se importar com títulos nem nada e só colocar nome nos quadros porque a galeria ou produtor cultural exigia.





"- Bote qualquer nome, oras!"
Consigo imaginar alguém dizendo a ele, e Van Gogh, com sua cara entendiada escrever no meu quadro favorito "Buquê de Flores" e dizer: "- Pronto, aí está o raio do nome!" e sair resmungando.


O que importa é o que vemos, afinal. Às vezes, para mim, o nome estraga o quadro, a foto, estraga muita coisa porque não deixa nossa imaginação fluir livremente. E isso eu amei no Van Gogh. Vislumbrava as cores fortes e os girassóis... ah, os girassóis! Que lindos. Tão reais que eu conseguia até fechar os olhos e sentir o cheirinho deles.



Pensava em tudo isso e imaginava tudo enquanto ia passando de quadro para o seguinte. A fase escura da sua vida, a fase iluminada, tudo expressado em suas pinturas. Como era incrível. Era claro ao final da exposição saber exatamente qual o humor tinha Van Gogh ao pintar cada quadro. Saí realizada.
 Não levei máquina e o acervo é do Iaroslav(com alguns toques meus de "essa aqui" e "essa aqui")







e que sem querer fotografou meu quadro preferido (que por acaso, como vocês podem ver na foto, não podia ser fotografado...). Nesse quadro eu fiquei meia-hora. As cores, que cores! Vivas, pareciam que as flores iam sair pelas molduras inferiores e se espalhar em pétalas pelo chão a qualquer minuto. Como eu amei esse quadro. Se posso dizer que me apaixonei em Amsterdam, foi por ele.



                                                               Ok... IT`S SHOW TIME!


O resto do dia seguiu incrível, nos reencontramos na Ganga Smoking Area onde estava o inglês Peter que foi o cara mais chapado e afetado pela maconha que eu já conheci na vida. Sua vida se resumia a trabalhar uma parte do ano e torrar o resto do ano e do dinheiro em Amsterdam fumando maconha. Ele conversava como um personagem de "Orgulho e Preconceito" não só pelo sotaque, digo mais pela formalidade. Parecia ter saído direto de um filme. Impagável uma longa conversa com ele! Mas tinha um bom coração, puxou papo comigo no meu primeiro dia sozinha, se ofereceu para me mostrar a cidade enquanto minhas amigas não chegavam e me deu um mapa com os melhores Coffee Shops circulados e detalhados: este é mais famoso, mas não tem qualidade tão boa quanto o outro. Este é bem pequeno e parece estranho, mas tem as melhores ervas, etc. Acabou que eu não visitei nenhum deles e na verdade não gastei um centavo em maconha. O pouco que fumei  vinha dos meninos do hostel que fizemos amizade (coincidentemente descobri que eram todos do meu quarto) ou da francesa que vive em Paris mas é de Nice (e fazia questão de enfatizar pela famosa pouca simpatia que a frança possui pelos parisienses)que estava em Amsterdam escrevendo sua tese de mestrado. (ou pelo menos a Laure (ela) tentava escrever sua tese enquanto a gente estava pela rua, mas durante o dia, quando fomos nos reunindo ela simplesmente não resistiu mais, desligou o computador e sentou com a gente.). E os cogumelos começaram. Elena e Yulya gargalharam de chorar durante cinco (CINCO!) horas seguidas até que foram dormir porque a barriga doía demais. Gargalharam ainda mais contando sobre o Museu de Cera quando não faziam mais idéia de quem era de verdade e quem era de cera e quando Yulya pegou a mão de um homem achando que era um boneco para bater uma foto e a mão mexeu ela pulou tão alto,bateu a cabeça e quase caiu no chão.

Elas podiam ser garotas propaganda dos cogumelos, porque só de ficar no quartinho da fumaça (traduzido fica srm,graça o nome) dez minutos com elas gargalhando sem conseguir parar, chorando de rir, vermelhas,  uns 20 turistas saíram correndo atrás das Smart Shops para comprar os mesmos. As pessoas entravam e saíam, entravam e saíam, e o nosso grupo continuava. Eu estava mole, imóvel, com efeito do cogumelo junto com a fumaça da maconha na sala toda. Para mim a tal da onde foi outra. As paredes dançavam, os desenhos na parede então davam um show de hip hop, gargalhei também porém menos que as meninas. Tudo era engraçado e diferente.

No final da noite eu só sorria e não falava nada com ninguém. E nem me lembro de refletir sobre nada, eu simplesmente não tinha nada na cabeça. E às vezes sobre umas 5 coisas diferentes ao mesmo tempo. Ficava olhando, olhando e rindo, sorrindo.
Quando as canadenses antipáticas voltaram horas depois da rua ainda estávamos todos lá. Eu, Laure, os 3 americanos e o australiano na mesma posição. Deu até vergonha. Era impossível mexer. Não sei explicar. Meu corpo pesava toneladas! Eu só observava as conversas, escutava as músicas sempre boas do DJ Mike, às vezes participava e na maioria das vezes não conseguia. Não tinha força nem para falar às vezes. Iaroslav sacaneando o Peter, os americanos irmãos e o Mike conversando assuntos muito legais sobre desenvolvimento mundial, que é a área em que ele trabalha e o que levava ele a viajar tanto. O Mike não era um americano ignorante e me surpreendeu. Lembro de ter pensado isso. Lembro de pensamentos avulsos. Lembro de ter achado aqueles os sofás mais confortáveis do mundo.

 De ter chamado mentalmente o dono do hoste de espertinho porque tinha três geladeiras enormes só de snacks bem na salinha da fumaça e que ele devia estar milionário só com aquela idéia. Lembro de apenas trocar olhares com a Laure e com o Iaroslav e fazermos transmissão de pensamentos e rirmos juntos e então gargalharmos porque não fazíamos mais idéia do porque tínhamos começado a rir. Lembro também daquele ser o nosso ninho. Quando um de nós ameaçava sair da sala todos os outros paravam o que estavam fazendo (mesmo que fosse nada) e falavam "ou ou ou!! você vai aonde? nada disso!! voce não pode abandonar a gente! pode voltar e sentar!" e sempre funcionava. A pessoa voltava e nos sentíamos completos de novo. E tudo isso com pessoas que eu tinha acabado de conhecer. Que esquisito. Que sensação legal. Que estranho e legal. Conclusão: MUY LOCO!!

 Lembro de ter sido a noite mais louca dentro da minha cabeça na minha vida e eu até agradeci que iria embora no dia seguinte, porque  também me lembro de em algum momento ter concluído que Amsterdam pode ser perigoso(ou algo assim).

No dia seguinte nós já éramos amigos inseparáveis andando em bando.

Fizemos tudo juntos enquanto tínhamos as últimas horas livres. Red Light District, Coffee Shops, Vondelpark com cogumelos que tinham sobrado e uollll


















(não conseguimos chegar ao lago porque a onda do cogumelo bateu antes e paramos por ali pela árvore mesmo que no momento parecia ser de outro mundo de tão maravilhosa, ou então era o cogumelo. Mas que todos estavam na mesma onda então, estavam. Porque os olhos arregalados com a beleza da árvore brilhavam iguaizinhos...


                        E, OBVIAMENTE, não dava para ir embora sem "a foto nas letrinhas"(como dizia Yulya)




Saímos gargalhando de Amsterdam depois de termos errado plataformas e trens até conseguirmos achar o certo e Elena ter passodo por todos os vagões batendo com o saco de dormir na cabeça de todos os passageiros e eu atrás ria tanto que eu não conseguia avisar a ela, então ela virava para trás para me mandar ficar quieta porque eu estava acordando todos e quando ela virava ela porrava na cabeça de alguém e eu quase caía no chão de tanto rir e assim fomos por uns 16 vagões até finalmente sentarmos, e esperarmos Bruxelas!

Eu admito e lamento que dessa vez fui à Holanda e não vi quase nada da Holanda. Não conheci holandeses, não comi comida típica. Foi mais como uma volta ao mundo dos EUA até a Rússia. Foi ótimo, sim, claro. Mas saí sabendo que aquilo foi apenas uma,brincadeira, e que nunca me perdoaria se não retornasse. E dessa forma Amsterdam e Holanda entraram na minha lista de lugares para voltar. Espero conseguir algum holandês bem legal para me hospedar pelo couchsurfing da próxima vez.

Obrigada, Amsterdam, por ter me divertido tanto com tantas gargalhadas e novos pontos de vista e experiências  e o mais importante, por ter me deixado sair viva! Amém!

WE SURVIVED! YEAHHHH!!!